8 de agosto de 2008

O SONHO

Estampa de Goya

Uma noite, D. Leonor, mulher de El-Rei D. João II e irmã do príncipe D. Manuel, dirigia-se para os aposentos reais, quando teve uma visão: via-se em Alcochete, com sua Alteza Real D. João II, numa largada. Um toiro viera contra si, por isso D. João II desembainhara a sua espada, cortara um bocado da sua capa vermelha e tentara tourear o boi preto.
D. Leonor não viu o resto, porque o seu sonho foi interrompido ao ouvir o seu marido que a chamou para irem dormir no leito real.
Algumas semanas depois, a corte dirigiu-se a Alcochete, como sempre fazia em algumas épocas do ano. Iam assistir às cerimónias religiosas e a uma largada, pois a vila estava em festa.
Antes do passeio pela vila, D. Leonor pediu a D. João II para que este levasse a sua espada, mas El-Rei D. João II quis saber porquê. D. Leonor pediu-lhe que confiasse nela. Então, D. João II levou a sua espada e entregou-a ao seu pajem.
Quando chegaram a Alcochete, havia uma grande feira com várias bancas de artigos para venda e muita animação: jograis, malabaristas, lutadores.
D. Leonor estava vestida com um grande vestido de brocado italiano azul e touca bordada a ouro, enquanto o rei D. João II, por cima do pelote bordado, trazia uma capa vermelha estampada de veludo.
A caminho da igreja, assistiram à largada que decorria, ao longo das ruas da vila. O pajem, que trazia a espada, conversava animadamente com as damas. Estavam todos a divertir-se, até que foram surpreendidos pelo boi que saltou as trincheiras. D. João II ordenou:
-Passai-me a espada, pajem!
Este não ouviu o pedido, porque estava atrás da comitiva
D. Leonor ficou assustada, porque na sua visão não tinha visto muita coisa, por isso disse a Sua Alteza Real:
-Cortai a capa e tentai tourear o touro!
O rei assim fez. Tentou rasgar a capa, mas não conseguia, porque o tecido era grosso e era difícil fazê-lo. Ficou em pânico e tremeu, tendo olhado para o céu, à espera de um milagre.
Felizmente, não aconteceu nada, já que o boi se desviou e continuou o seu caminho. D. Leonor ficou muita aliviada e agradecida pela coragem demonstrada pelo seu excelentíssimo esposo.
Alguns meses depois, D. João II, recordando este episódio, disse:
-Vou confiar sempre em si, minha querida rainha D. Leonor. Confiarei sempre nos seus sonhos.


João Justino, 7º B

7 de agosto de 2008

A Oração a Nossa Senhora do Manto

Foi no dia 11 de Junho, do ano da graça de 1557, que aconteceu uma desgraça que já era esperada. O rei D. João III morreu. Toda a família real ficou bastante abalada, com esta perda, pois o filho de D. João já tinha falecido e só lhe restava um neto, o príncipe D. Sebastião. Era bastante importante que este não morresse, pois se tal acontecesse não haveria rei que pudesse reinar.
Três anos após o falecimento de D. João III, a corte ainda bastante abalada, decidiu sair de Lisboa para espairecer. Então determinou parar em Alcochete onde tinham um paço real. Como na altura ainda não havia transportes directos para a vila, a corte veio de barco até à Aldeia Galega e, depois, foi preparada uma carruagem até à vila de Alcochete.
Quando chegaram, pararam ao pé de uma bonita igreja: a igreja da Misericórdia. Com curiosidade, decidiram entrar e depararam-se com uma beleza inexplicável. Os seus olhos nunca tinham visto tal coisa: o edifício, junto ao rio, era original com os seus dois andares e o seu altar, apesar de lhe faltar ainda algumas imagens para que aquele espaço fosse mais bonito.
Foi então que avistaram uma obra de arte lindíssima: a Bandeira da Misericórdia. Toda a corte se ajoelhou em plena igreja, em frente da bandeira. Fez-se silêncio. Até que se ouviu um barulhinho ao fundo. D. Sebastião abriu os seus olhos, olhou para a sua direita e viu a sua avó, a rainha D. Catarina de Áustria, a rezar em memória do seu falecido marido. Esta bastante concentrada, murmurava:
“ Nossa Senhora do Manto, cheia de Graça, que estais no céu, protegei o meu neto de tudo o que lhe poderá vir a acontecer. Fazei com que não lhe aconteça o que lhe aconteceu a seu pai. Este meu neto é bastante importante para mim, se ele morrer não existirá ninguém para reinar no seu lugar.
Acompanhai o meu neto para todo o lado, protegei-o do mal, o olhai também por todos os meus filhos que devem estar no céu ! “
D. Sebastião não percebeu por que tanto rezava a sua avó, mas gostou de a ouvir falar assim tão baixinho. Depois de D. Catarina de Áustria e de seu neto D. Sebastião saírem da igreja, todos se dirigiram para o paço para tomarem um chá.
D. Catarina, em conversa com seu neto, D. Sebastião, comentou:
_ Príncipe D. Sebastião, tenho estado a reparar que aqui, por estes lados, existem alguns mendigos. Lá para o nosso sítio também. E com uma terra tão bonita quanto esta, acho que todas as pessoas deveriam viver bem e não viver na rua, ao frio e à chuva!
_ Vossa Alteza, também concordo consigo, como será que poderemos ajudar estas pessoas? – respondeu o pequeno príncipe D. Sebastião à sua avó, D. Catarina.
_ Penso que sim, meu príncipe, durante esta pequena conversa tenho estado a pensar e acho que poderíamos apoiar financeiramente os irmãos da Misericórdia e também ajudar os irmãos da Igreja Ermida da Nossa Senhora de Sabonha, em S. Francisco. – disse D. Catarina.
_ Concordo com Vossa Alteza, se precisar de ajuda pode contar comigo. – disse o príncipe à sua avó.
Depois de uma longa conversa e de um longo passeio, estes decidiram voltar ao paço para descansarem um pouco.

Jéssica Gomes
Nº 7 / 7º B

CARTA DE FRANCISCO DE CAMPOS À FAMÍLIA









Évora, 10 de Julho de 1580

Queridos filhos e esposa,

Estou-vos a escrever esta carta, porque estou gravemente doente, tenho peste e já não tenho muito tempo de vida. Também estou a escrever esta carta para vos dizer que tenho muitas saudades vossas, e que gosto muito de vocês. Tenho pena por não nos voltarmos a ver, por isso foi esta a maneira que arranjei para me despedir de vós.
Peço que nunca me esqueçam, pois estarei sempre convosco no vosso coração. Poderão ver obras minhas na Sé de Évora e também no Museu Regional de Beja, poderão também ver a bandeira da Misericórdia de Alcochete que pintei em 1560 e que contém imagens da nossa Senhora da Misericórdia e de Nossa Senhora da Piedade.
Lembro-me dos momentos que passámos juntos no meu atelier em Lisboa e quando íamos de barco para Alcochete – saíamos na Aldeia Galega, lembram-se? A bandeira da Misericórdia foi um dos meus trabalhos mais difíceis por ser a primeira a ser feita, pois não sabia o que lá pôr na bandeira. Depois de falar com os irmãos, acabei por escolher a imagem da Nossa Senhora da Misericórdia (em proporções grandes), com o manto aberto e suspenso por dois anjos; o manto cobre dois grupos sociais distintos: do lado direito a realeza, personalizada pelo Rei D.Manuel e pela Rainha D. Leonor e, do lado esquerdo, o clero, personalizada pelo bispo, pelo papa e por um cardeal. Desenhei mais facilmente a Nossa Senhora da Piedade, já tinha visto tantas!
Espero que gostem de tudo o que fiz e que procurem conhecer bem o que fui fazendo em todos estes anos. Tenho ainda obras minhas na Ermida da Boa Nova, no Alandroal; na Igreja Matriz de Góis, em Coimbra, e ainda no Museu de Lagos. Deixo-vos tudo isso em testamento.
Assim me despeço de vós, beijando-vos com muitas saudades,

Francisco de Campos

(P.S. estarei sempre convosco, no vosso coração)

SENHORA DO MANTO

SENHORA DA MISERICÓRDIA
E AMIGA DE TODOS AS PESSOAS
NUNCA SE ESQUECE DE NINGUÉM
HONRA AQUILO QUE REPRESENTA
ORGULHOSA DOS SEUS FILHOS
REZA PARA TODAS AS PESSOAS, QUE NECESSITAM
AMIGA DE TODOS, ATÉ DAQUELES QUE NÃO ACREDITAM

DESEJA TUDO DE BOM PARA TODOS
OUVE SEMPRE OS PEDIDOS, AS SÚPLICAS

MULHER, MÃE E IRMÃ,
AMOROSA E CARIDOSA
NINGUÉM A DEVE DESRESPEITAR
TENTA AJUDAR QUEM NECESSITA
OU QUEM DELA PRECISA


Joana Costa, 7º B

Francisco de Campos


No dia seis de Janeiro de 1560, Francisco foi caçar com os amigos, nos bosques de Alcochete.
Ao cair da noite, voltaram do bosque com um veado e algumas aves. Durante a tão esperada ceia, todos se juntaram e se banquetearam com o que caçaram, enquanto ouviram algumas cantigas de amor, cantadas por um trovador.
No dia seguinte, Francisco acordou cedo, ao nascer do sol, e foi ao centro da vila acabar a obra, encomendada pelos irmãos da Misericórdia, obra esta que tinha iniciado no seu atelier de Lisboa. Preparou os materiais e começou a pintar, pois tinha que estar muito concentrado, agora que ultimava os pormenores. Tinha pouco tempo para acabar o quadro e ainda teve que decidir a técnica de pintura, a técnica dos modelados foi uma das escolhidas, pois gostava do efeito que provocava. Já cansado, foi dar um passeio pela vila e encontrou um fidalgo que conhecia há algum tempo q que tinha um solar na vila.
- Então, dizei, como vão as coisas? - perguntou Francisco.
- Vai tudo bem, graças a Deus. – respondeu o fidalgo – O que fazeis aqui?
- Estou a acabar a parte de trás da bandeira que tem a Nossa Senhora da Piedade e só tenho até para a semana, data marcada para a sua entrega aos irmãos da Misericórdia. – disse Francisco.
- Então, vós não tendes muito tempo, meu amigo! - retorquiu o fidalgo.
No dia seguinte, de manhãzinha, foi acabar o quadro, mas faltava-lhe cores para os pormenores. Precisava de ir a um conhecido boticário a Lisboa, para comprar pigmentos para a elaboração das tintas. E assim fez, apanhando o barco para Lisboa, na Aldeia Galega.
Quatro dias depois, já recomeçara a pintar, tinha feito os contornos e agora preparava outras cores, com o óleo de linhaça, o ovo e as terebentinas. O mais difícil era aquele azul do manto e os pormenores a ouro, assim como as sombras nos tecidos. Mas quando deu por acabado a sua obra-prima, suspirou:
_ Finalmente, vou poder ir a Évora ver a família. E até tenho outras encomendas para Évora que iniciarei depois de descansar.
Saiu para a rua e dirigiu-se à Igreja da Misericórdia para agradecer a Deus, por todas as encomendas e pela sua saúde, que lhe permitia cumprir os seus compromissos. Deu ainda graças pela sua família.



André Quadrado, 7º B

A MINHA ESCOLA ADOPTA UM MUSEU


A representante do Museu de Arte Sacra de Alcochete e os professores envolvidos no Projecto escolheram a bandeira da Misericórdia como testemunho a ser trabalhado pelos alunos desta turma do 7º ano (B) e pelos professores, este ano lectivo. Trata-se de um quadro de Francisco de Campos, datado de 1560. Foi um trabalho aliciante, para mais porque ganhámos o primeiro prémio nacional de escrita.


( Professora Ana Martins)